Leve o chef pra casa

06/11/2011 08:57

Receber é uma arte que se faz cada vez mais cotidiana em tempos de lei seca. Para não fazer feio diante dos convidados, tem gente contratando chefs estrelados até para reunir os amigos mais íntimos

 

Você quer estrelar uma charmosa recepção para poucos amigos em casa, mas não goza de muita intimidade com caçarolas e trâmites gastronômicos? Seus planos não precisam acabar em pizza. Com alguma antecedência e muitas onças, é possível recorrer ao que há de mais verdejante e charmoso no cardápio dos serviços delivery disponíveis na cidade: a alta gastronomia em domicílio. Apesar de relativamente novo para os recifenses, o conceito vai de vento em popa na cidade. Palavra de chef. Aliás, de chefs. Cada vez mais protagonistas do tão aclamado mercado gastronômico local estão migrando dos salões de restaurante para uma cozinha perto de você.

Ou cozinhando lá e lô. Como Karyna Maranhão, que assina o cardápio do novíssimo Manuel Bandeira e também empresta seus dotes para garantir sabor à festa alheia, com a ajuda do intrépido sócio Armando Pugliese, esse sim um dissidente do mercado formal rumo ao delivery. No cardápio itinerante da dupla, que batizou o serviço de Riz Gastronomia, variedade é o tempero mais pronunciado. "Preferimos as festas pequenas. Para até 60 pessoas, mas vez por outra Armandinho se empolga e fecha contratos maiores", reclama Karyna. Requisitadíssimos na high society local, os sócios são pau para toda obra. Fazem de bodas de diamante a aniversário de criança para os íntimos. "Adoro fazer aniversário de criança para encher a mesa de comida de enfeite."

Na prática, funciona assim: depois de apalavrado o negócio, os sócios sugerem um cardápio que vai muito além da santíssima trindade entrada-prato principal-sobremesa. "Se o cliente quiser, levamos louça, garçons, tudo", diz a jeitosa Karyna, que até na decoração da festa dá pitaco. E se engana quem pensa que eles delegam tudo. "Ficamos lá, preparando tudo até o último prato", diz Armandinho, que prefere quando o cliente contrata o serviço empratado, "bem mais charmoso", mas também encara com galhardia qualquer outra alternativa. "Quem manda é o freguês", brinca o chef, que garante: a satisfação de cozinhar é a mesma que um restaurante proporciona. "Mas a vida de chef itinerante é muito mais dinâmica. É como se a gente estivesse no comando de um restaurante novo a cada refeição." Além de bons negócios, garante Pugliese, dá até para fazer amigos. "Faço questão de ir ao salão, cumprimentar os convidados. E, se alguém tiver uma restrição alimentar, improviso um prato na hora."

Já a organizadíssima Danielle Johnnei faz das tripas coração para driblar o imponderável na hora de preparar o festival gastronômico alheio. Para ela, quanto menos surpresa, melhor. "Converso bastante para entender o que o cliente quer. E até para saber melhor quem ele é, do que gosta", diz. "E faço mais: vou antes da data marcada na casa do cliente, no salão de festa ou onde quer que seja, para saber com que estrutura vou contar", conta Danielle, que faz questão de frisar que não é chef. "Fiz curso de hotelaria e pós-graduação em logística, mas sempre flertei com a gastronomia", diz. No mais, foi a vida que se encarregou de promover o casamento dela com a técnica. Na verdade, com um especialista no assunto, o célebre chef Duca Lapenda, que ajudou a lapidar sua vocação e interesse pela área.

"Curiosa" devotada e excelente planejadora, Danielle juntou a fome com a vontade de comer na hora de oferecer seus serviços de promoter-praticamente-chef ao mercado. Desde 2008, organiza eventos "sobretudo de pequeno porte" nos mínimos detalhes. "Se for preciso, vou em busca de manobrista, garçom, decorador e fico na festa até o fim dos comes e bebes." Mas também encara relacionamentos mais abertos com a clientela. "Alguns preferem passar na empresa e pegar o menu acordado. Mas aí, aviso logo: sou chata. Faço questão de saber com que carro ele vai buscar a comida, como vai servir. Afinal, é minha assinatura que vai estar em jogo."

Outra briga que ela faz questão de comprar é a definição do cardápio. "Muitos clientes chegam logo pedindo filé com massa e eu vou conversando para mostrar que há outras possibilidades mais charmosas. Afinal, as pessoas estão requisitando meus serviços porque querem receber com mais elegância." Mas que ninguém tome esse charme a que se refere Danielle por elitismo gastronômico. No tabuleiro da moça não falta comfort-food. Devidamente repaginada, claro. Entre as opções de entrada, por exemplo, ela oferece minicuscuz paulista e trouxinha de carne-seca com vinagrete de pimenta. Difícil um cliente que resista.

Mais difícil ainda um que não entenda a proposta. "Percebo o recifense cada vez mais versado em gastronomia." Certamente, avalia Danielle, porque a cidade é pródiga em celebridades na cozinha. E, por mais estranho que possa parecer, quanto mais gente frequenta os restaurantes, mais demanda se apresenta para os chefs em domicílio. "A lei seca, a violência e as filas são nossa maior publicidade."

Apesar de numerosa, a clientela fiel a esse tipo de serviço, garantem os chefs, não chega a ser diversificada. "Até hoje, só fechamos contrato na classe A", diz Armando Pugliese. É o suficiente para fazer desse nicho gastronômico um mercado tão promissor, que até quem já tinha desistido do terroir nordestino voltou para casa. Thiago Rangel é um deles. Depois de passar seis anos estudando e trabalhando nos Estados Unidos e Canadá, ele resolveu fazer uma visita à cidade, topou assinar um cardápio delivery e seu telefone não parou mais de tocar. "Até já recebi propostas para trabalhar em restaurante. Mas não vale a pena", diz o chef, que oferece seus serviços para até 40 pessoas e garante personalização total do cardápio. Além de dedicação absoluta ao evento.

Thiago diz que inspeciona pessoalmente o local onde vai trabalhar com antecedência e no dia da festa é o primeiro a chegar e o último a sair. Mas avisa que louça e talheres não são atribuição sua. "Geralmente, quem contrata esse tipo de serviço quer mostrar seu enxoval", brinca Thiago, que se surpreendeu com o apego dos recifenses ao risoto. "Todos os meus clientes pedem que eu acrescente esse prato no cardápio", diverte-se. Outra pedida hors-concours, diz, é o famoso filé. "Nordestino tem mania de filé. Minha contraproposta, quase sempre aceita, é o bife de chouriço." Mas o mais grave dos cacoetes gastronômicos locais, diz, é o exagero. "As pessoas aqui gostam de ostentar." Melhor para ele.

Quem também empenha seu prestígio e tempero para garantir o sucesso da recepção alheia é Lícia Maranhão e Cláudia Freire. Lícia atende até 100 pessoas, mas só garante louça para 50. Daí em diante é com o cliente. "Posso dar assessoria na escolha, com o maior prazer", diz a chef, que quase sempre precisa incluir camarão no cardápio. Outro fetiche tipicamente nordestino, diz, é o doce. "Chocolate então..." Para garantir, ao mesmo tempo, prazer, glicose e charme para a clientela ela aposta quase sempre nos brigadeiros gourmets como sobremesa.

Já Cláudia prioriza eventos menores, para até 40 comensais. E, ao contrário da maioria de seus concorrentes, opta por um modus operandi 100% delivery. Cláudia define o cardápio com o cliente, ele faz as compras e ela prepara tudo in loco. "Um dia antes, vou e deixo tudo pré-preparado na casa do cliente. No dia da festa estou lá de novo", diz Cláudia, que comanda a grife Toque de Chef. "Além de assinar esses eventos, dou cursos de gastronomia personalizados." Outro filão promissor no qual Thiago Rangel também está de olho. Aliás, de corpo, alma e caçarolas.

Serviço

Riz Gastronomia - 9111-9751

Danielle Johnnei - 8860-2975

Thiago Rangel - 8888-9000

Cláudia Freire - 9723-7295

Lícia Maranhão - 8745-0872

 

Fonte: JC On Line

Por Bruna Cabral